As multinacionais golpeiam novamente: Pfizer fecha uma de suas plantas em Valencia, Venezuela
escrito por Hermann Albrecht
quarta-feira, 08 de julho de 2009
No final de maio deste ano tornou-se pública a denúncia do fechamento iminente por parte da multinacional estadunidense Pfizer de uma de suas plantas produtoras de medicamentos localizada na cidade de Valencia, Carabobo. No último dia 21 de Maio declarava Eduardo Samán, ministro do Poder Popular para o Comércio e presidente do INDEPABIS que se estava avaliando, “a possibilidade de aplicar uma medida de ocupação temporária dessa empresa multinacional”. Ditas declarações davam-se depois da reunião que teve Samán com o sindicato de trabalhadores da Pfizer, quem se manifestavam a favor de seguir a consigna de “Fábrica fechada, fábrica tomada” diante o perigo de perder seus postos de trabalho pela decisão da empresa de fechar suas portas.
Segundo denunciava o próprio Samán, esta multinacional farmacêutica tem recebido vultosas divisas para a importação da matéria prima e assim garantir sua produção no país. “Pfizer de Venezuela fechou uma de suas plantas em Valencia e estamos muito preocupados, devido a que nesta planta se fazem medicamentos essenciais e necessários para o país. (…) não pode ser que eles recebam do Estado todas as divisas para importar e nos paguem com o fechamento de uma planta e com a geração de desemprego”.
Mas a lógica do capitalismo é a de gerar o maior lucro possível, sem importar as conseqüências de impacto social que isso possa trazer. O Governo Bolivariano já deveria ter aprendido que não há possibilidade de alianças com a burguesia, bem seja a mau chamada “burguesia nacional” ou seus amos imperialistas. Nem pode o Governo esperar agradecimento ou lealdade alguma destes setores pelos benefícios outorgados ao longo destes anos. Recordemos que apesar dos grosseiros ganhos de setores como o bancário, ditos capitalistas têm seguido seu empenho de guerra de baixa intensidade contra o Governo Bolivariano para o derrotar, desgastando seu apoio e erodindo o entusiasmo revolucionário das massas. De fato, os próprios trabalhadores têm denunciado que as intenções de fechamento da planta por parte de Pfizer são conhecidos desde ao menos 2007.
Finalmente, Samán declarou que se elaboraria um relatório para ser apresentado diante do Presidente e que este decidisse se se procedia à declaração da ocupação temporária da planta. Com o fechamento da planta vêem-se afetados cerca de 175 trabalhadores. De fato, em uma nota de imprensa publicada no final de 2005 no diário “O Carabobenho” a propósito do anúncio de Pfizer de importar o medicamento Lyrica (prescrito para dores neuropáticos) falava-se que esta, através das duas plantas em Valencia produziam 70% dos medicamentos desta marca que se consomem em Venezuela e ademais exportam a 16 países da América Latina. Em princípios de 2006 geravam 850 empregos diretos e 2.000 indiretos.
A resposta da transnacional não se fez esperar. Ao dia seguinte dos anúncios do ministro Samán a farmacêutica Pfizer anunciou que analisava as possíveis ações diante uma eventual ocupação de uma de suas plantas por parte do Governo Bolivariano. Em um breve comunicado carregado do caradurismo habitual dos capitalistas, Pfizer disse que “mantinha seu compromisso de seguir fornecendo seus produtos em áreas terapêuticas similares e se comprometeu a levar um diálogo amigavel com as autoridades venezuelanas”.
Passada uma semana, em 28 de Maio, de acordo com uma nota da agência noticiosa Reuters, o próprio ministro Samán anunciou que Pfizer lhe tinha oferecido a venda a planta fechada ao Governo Bolivariano, além da outros vários interessados. Segundo declarou Samán ao diário O Universal, “Eles se reuniram comigo e manifestaram que querem vender a planta. O Ministério de Saúde é quem receberá a oferta”. Igualmente Samán reiterou que pese a que se garantirá a entrega de divisas para as operações da filial de Pfizer, a fábrica prefere importar a produzir no país "porque é mais negócio".
Em uma roda de imprensa dada no dia seguinte, Francisco Medina, secretário geral de SINTRARECEMSERCA (Sindicato dos Trabalhadores), de RECEMCA (uma das terceirizadas de Pfizer), declarou que uns 50 medicamentos deverão ser deixados de produzir no país, e que teriam que ser importados, se se concretiza o fechamento da Planta Este em Valencia de Pfizer. De fato, anunciou que para 30 de Maio já não se estaria produzindo Dramamine (Dimenhidrinato, antiemético, antinauseoso, antivertiginoso e anticinetósico). Outros dos medicamentos cuja produção será eliminada incluem Motrin (Ibuprofeno, analgésico), Tafil (Alprazolam, ansiolítico), Provera (Medroxiprogesterona, para tratamentos ginecológicos e oncológicos), Mandelamine (Mandelato de metenamina, tratamento de infecções recorrentes do tracto urinário), Dalacin (Clindamicina, Antibiótico), Epamin (Difenilhidantoína, Anticonvulsionante), Feldene (Piroxicam, tratamento de Osteoartritis, artritis reumatoidea, etc.) Lincocin (Lincomicina, antibiótico), entre outros.
Adicionalmente denunciou que desde dezembro foram demitidos quase 300 empregados, ficando hoje apenas 102 pessoas, entre pessoal fixo e as pertencentes a tercerizada. Indicou que aos trabalhadores fixos se lhes está oferecendo uma "caixinha feliz", que consiste em lhes dar aos empregados um monto maior ao que lhes corresponde para que assinem a renúncia. Os que não a aceitem passariam à planta Oeste, ainda que em realidade não existe garantia, já que nem o espaço físico nem a elaboração dos medicamentos é da mesma magnitude ou similar a seu par Este. Nesse dia os trabalhadores de Pfizer e de seus contratas reuniram-se com Marcela Máspero, coordenadora nacional da União de Trabalhadores de Venezuela e presidenta da Federação Nacional de Trabalhadores da Indústria Química Farmacêutica (FETRAMECO).
Crônica de um fechamento anunciado
Já no final de fevereiro o diário O Nacional citava a Máspero declarando sobre a situação de demissões nesta farmacêutica. Em sua edição do 26 de Fevereiro, declarava que Pfizer “demitiu até a data 6 trabalhadores fixos e cerca de 100 trabalhadores terceirizados. Estes trabalham na área de empacotamento e a grande maioria são mulheres.” Em uma nota publicada por sua corrente sindical na UNT, a CTR, declarava que “Esta Empresa tem tentado fechar a Planta Este em várias oportunidades, a qual está localizada por trás da Planta de FORD, e nesta ocasião arremeteu ocasionando demissões em massa, violando até o direito humano de mulheres, mães de família, que estando grávidas ou em período pré e pós-natal, têm sido despedidas.” Igualmente indicou que “As demissões foram majoritariamente na Empresa RECEMCA Service e MANPOWER na área de empacotamento, escritório e alguns funcionários de produção”.
Diante do fechamento que já se via vir e apesar das denúncias dos próprios trabalhadores, as diretrizes de Máspero se limitaram a pedir a suspensão da solvência trabalhista: “Exigiremos ao Ministério do Trabalho a suspensão da solvência trabalhista, iremos ao Ministério de Saúde, Instituição que vela pelo cumprimento do Regulamento para este setor e ao IVSS e outros entes aos quais se licitam os produtos desta Empresa, para informar de tão grave situação e exigir que através da atuação interinstitucional e conjunta do Estado venezuelano, se exija a esta Empresa o cumprimento do regulamento trabalhista vigente”.
Vale recordar que em fevereiro de 2005, Pfizer já tinha sido multada e fechada por 48 horas pelo SENIAT, tanto em suas plantas em Valencia como em seus escritórios corporativas na Castelhana, Caracas. Segundo declarações recolhidas por VTV, a então Gerente da Região Central do SENIAT, Zeleyka Muskus, informava que a sanção respondia a não cumprimento de deveres formais nos livros de compra e venda em matéria do IVA, bem como infrações em matéria de ISLR, especificamente o relativo aos preços de transferência. Além do fechamento, Pfizer deveu pagar uma multa por 25 Unidades Tributárias.
Confirmado o fechamento e desmantelamento de Planta Este
Segundo uma denúncia aparecida na última segunda-feira 29 de junho em APORREA, a multinacional Pfizer tem seguido em sua determinação de reduzir suas operações no país. Arnaldo Fabrega, trabalhador da empresa, que tem mais de 20 anos de serviços, assinalava que a linha de manufatura estéril para uso hospitalar existente em Valencia foi fechada faz meses e paulatinamente desmantelada. “Pfizer planeja para este mesmo mês, fechar completamente todas suas operações no território nacional, atualmente a empresa conta com 160 trabalhadores dos aproximadamente 400 que antigamente tinham”.
No citado artigo, Rosina Romero em entrevista aos trabalhadores desta farmacêutica, quem comentam que “A empresa no mês de maio por méio de uma ata se comprometeu, a não fechar as plantas e a remodelar as áreas. No entanto, temos visto um desgaste progressivo após a assinatura da mesma, porque nem sequer têm-se re-estabelecido as áreas de produção.” Mais adianta comentam que “muitos dos trabalhadores que foram demitidos são os mais antigos, que tinham entre 30 e 35 anos de labores, onde simplesmente lhes obrigam a renunciar para sair deles. Apesar de que Pfizer tem todas as possibilidades para fabricar no país, não as aproveita e ao invés considera a produção de fora como uma alternativa para ganhar mais dinheiro.”
Igualmente indicaram que “atualmente a empresa conta nada mais que com uma linha de fabricação de medicamentos, que só elabora anti-hemorrágicos, além de ter na mira três grandes linhas que correspondem à área de manufatura estéril. (…) no futuro a planta ficará principalmente para manejar a importação de medicamentos. O único que se está elaborando até agora são; antipiréticos e antibióticos”
Expropriar sem indenização a Pfizer e pô-la a funcionar baixo controle operário
A burguesia não tem interesse algum no investimento produtiva em nosso país. Apesar de seus enormes ganhos, preferem continuar transladando suas plantas a países mais “amigáveis”. De fato, em uma nota publicada no lugar Minhas Finanças Em Linha cita-se um documento elaborado por VENANCHAM, a câmera venezuelano estadunidense de comércio, à qual pertence Pfizer, onde falam de “a incerteza política” como um das principais preocupações, seguida por “o controle de preços, os custos trabalhistas, as licenças e os altos níveis de insegurança”. Dito documento igualmente assinala que os filiados a esta câmera, em sua maioria grandes empresas, calculam que a inflação se acelerará a quase um 35%, em frente a uma meta oficial de 15%.
Ao final do dia, os únicos interessados em impulsionar a produção no país e em defender a Revolução Bolivariana somos as e os trabalhadores. O único caminho adiante é a ocupação das instalações de Pfizer, de ambas plantas, e assim deter o desmantelamento das mesmas. Não se pode seguir perdendo tempo e esperar a aprovação formal do que já tem sido uma linha ditada pelo presidente em diferentes ocasiões. A ocupação de ditas plantas deve ir seguido da imediata expropriação sem indenização de ambas plantas de Pfizer e sua recuperação e posta em funcionamento sob o controle operário.
Recordemos que no passado domingo, 3 de Maio, o presidente Chávez reinaugurou a planta de produção do Serviço Autônomo de Elaboração Farmacêutica (SEFAR), localizada na paróquia Macarao, Caracas. Como muito bem assinalou Chávez nessa ocasião ao recordar que durante os governos de Isaías Medina Angarita e Rómulo Galegos se deram os primeiros passos para a instalação de fábricas de medicamentos, estes governos foram derrotados pela burguesia parasita que não tem estado nem estará interessada no desenvolvimento produtivo do país.
Com a recuperação desta planta, criada em 1993, mas que ao não cumprir com as normas e condições de operatividade, nem com a capacidade instalada para produzir medicamentos, sua produção caiu até ficar inoperante, se anunciou a intenção de elaborar medicamentos de alta qualidade para combater os principais males que afligem ao povo venezuelano como a tuberculose, malaria, mau de Chagas, entre outros. A matéria prima será importada da Índia, Chine, Suécia e Alemanha, ainda que a intenção é que se possa gerar no país. É claro que a expropriação das plantas de Pfizer pode servir como um primeiro passo para impulsionar adequadamente a produção nacional de medicamentos. SEFAR deve agrupar a estes trabalhadores, tanto os fixos como os tercerizados, para garantir a produção já não só com uma planta em Macarao senão com um conjunto de empresas farmacêuticas do Estado que funcionem baixo controle dos trabalhadores. Isto deve ir acompanhado por suposto da nacionalização do resto das empresas farmacêuticas que desde faz já décadas iniciaram a migração a países vizinhos com leis trabalhistas mais flexíveis, pondo em perigo a saúde dos venezuelanos.
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