quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ENC: Criminalização do Movimento Sem Terra na região de Bauru

 

Criminalização

O outro lado da ocupação feita pelo MST na fazenda grilada pela CUTRALE em Bauru


 

 

Criminalização do Movimento Sem Terra  na região de Bauru

 

A campanha pela criminalização dos movimentos sociais segue no Brasil. O mais novo capítulo tem velhos personagens - latifundiários "modernos" do agronegócio, imprensa, polícia militar e deputados e senadores ruralistas de um lado e trabalhadores rurais sem-terra de outro.

Desta vez o episódio se deu em terras públicas griladas pela maior multinacional de suco de laranja do mundo, a Cutrale, mais precisamente na fazenda Capim entre as cidades de Borebi e Iaras na região de Bauru, centro-oeste paulista, que foi ocupada por 250 famílias de sem-terra no fim de setembro passado. A Cutrale controla cerca de 30% de todo o mercado de suco de laranja do mundo e 98% de sua produção no Brasil são para exportação, principalmente para os EUA. Por conta dessa concentração de mercado, a multinacional já foi acusada, entre outras coisas, de formação de cartel.

Os donos da empresa têm uma fortuna de mais de R$ 2 bilhões, e o patriarca, José Cutrale Jr., filho do fundador do império, já foi colocado na lista dos homens mais ricos do mundo pela revista Forbes.

Na ocupação foram derrubados cerca de 3000 pés de laranja (7500 segundo a PM), produtos do latifúndio e da monocultura, controlados pelos novos coronéis beneficiados pela política econômica e agrária do governo. Nenhuma dúzia dessas laranjas chegará à mesa do trabalhador brasileiro. No entanto a derrubada dos laranjais foi transformada em espetáculo pela mídia local e depois nacional.

A cena do trator sobre os pés de laranja da Cutrale foi repetida à exaustão por vários canais de TV, como símbolo não do latifúndio ou da grilagem de terras, mas de uma ação destrutiva e criminosa do MST. Rapidamente outros atores entraram em cena. O primeiro foi o Judiciário de Lençóis Paulista, que apressou a reintegração de posse, em favor da Cutrale, executada em seguida pela polícia de Serra. Depois vieram os berros da bancada ruralista, principalmente da senadora Kátia Abreu (TO), e do senador Ronaldo Caído (GO), exigindo a abertura de uma CPI para investigar o MST. O INCRA também condenou a ocupação e, finalmente, o presidente Lula, que já colocou o boné do movimento, agora chama o episódio de vandalismo.

Enquanto latifúndio, judiciário, bancada ruralista e imprensa burguesa armam esse circo para defender a punição dos "culpados", mais de 1600 trabalhadores rurais já foram assassinados somente nos últimos 10 anos de luta pela reforma agrária no Brasil. Apenas 80 assassinos foram levados a júri, e um número insignificante foi efetivamente julgado e condenado.

No Brasil de Lula, segundo o próprio IBGE, aumentaram também os latifúndios, 46% das terras agricultáveis são controladas por 1% do total de proprietários. Grandes grupos financeiros, bancos e transnacionais aumentaram o controle do lucrativo agronegócio brasileiro, o que inclui também deixar imensas áreas cercadas sem produzir um grão de feijão e especular no mercado imobiliário rural.

Do outro lado da cerca, o orçamento para reforma agrária para 2010 foi cortado em 11,6%, e em 2009, da meta de 100 mil famílias prometidas pelo governo, apenas cinco mil haviam conseguido o acesso à terra até julho.
 

 

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