quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Vejam o que diz a imprensa burguesa

O Governo estatiza a papelera Massuh com fundos da ANSES e Moreno será o reativador


O secretário de Comércio Interior buscará salvar a empresa. "Aqui o único que decide quem fica e quem se vai sou eu", afirmou, também os próximos passos e a estratégia oficial.


Moreno avisou que chegará todos os dias às 8 para reunião de direção

 

Uma vez mais o governo saiu para salvar uma empresa privada. Desta vez, através de Guillermo Moreno, salvou à papelera do grupo Massuh. O secretário de Comércio Interior apresentou-se ontem como o novo dono da empresa, no marco de um plano que a salvará com fundos estatais. Também em outras empresas, como da indústria automotriz e do couro, entre outras.
Dado o contexto de crise internacional, os recursos para levar adiante o plano virão da ANSES e do Banco Nação, que se encarregará de armar os garantias para levar a cabo o plano, como já começou a fazer na obra pública. A estas duas se somaria o dinheiro obtido via investimento de capitais.
Segundo informação publicada pelo Cronista, Massuh deve $249 milhões, a emprega tem quase 700 pessoas e tem 14 pedidos de falencia. Desde o Governo confiam que a ANSES deverá contribuir entre US$3 e 4 milhões. Segundo informou de A Nação, a estratégia implica ressuscitar o espírito do Banco Nacional de Desenvolvimento (Banade), que foi liquidado a princípios dos anos '90, mas por agora sem se institucionalizar.
A estatização de Massuh se diferença daquelas do Correio, Aguas Argentinas ou diferentes linhas ferroviárias, já que em todos os casos se tratou de concessões revogadas por parte do Estado. Diferentemente, a da papelera assemelha-se ao de Aerolíneas Argentinas, já que passou de seus donos privados ao gerenciamento estatal.
Próximos passos. Com este antecedente, parte do dinheiro arrecadado pela ANSES iria a automotrizes e a empresas que trabalham com o couro unidas ao mercado interno.
Uma fonte consultada pelo jornal afirmou: "O objetivo central é manter o desemprego em um dígito, porque neste contexto, se isto ficasse por conta do mercado, teria demissões em massa em todas as empresas com problemas".
O risco, admitiu o servidor público, é que, como ocorreu no passado, tenha uma catarata de empresas que se concorram ou avancem para uma quebra sabendo que o Estado se fará cargo de seus estabelecimentos para salvar as fontes de trabalho.
O salvador. Moreno percorreu ontem a planta de Quilmes. Em frente aos empregados da fábrica assegurou que "toda a produção de Massuh já está vendida desde o dia de ontem, garantindo que esteja vendida toda a produção dos próximos meses". "Aqui o único que decide quem fica e quem se vai sou eu... Desde manhã, como dizia o sábio geral: de casa ao trabalho e do trabalho a casa", assinalou o secretário de Comércio Interior.
Já tinha terminado sua percorrida pela planta de Papelera Quilmes (ex Massuh), mas ao subir a seu carro Néstor Kirchner deu média volta e enviou uma mensagem política aos operários que tinham acompanhado seu passo: "Estejam seguros que se o problema que teve esta fábrica o tivesse tido em 2001, com os que estavam (no Governo) em 2001, esta planta estaria fechada. Por isso lhes peço: Cuidemos este modelo!", disse no meio dos aplausos.
O ex Presidente desembarcou ontem pela manhã na planta industrial que voltou a se pôr em marcha nesta semana depois de cinco meses de parada, após que no inicio do mês sua administração passasse a mãos de um uma estatal.
Alguns empresários argentinos manifestaram nos últimos dias seu temor de que Massuh tenha sido só o primeiro passo de uma série de estatizações que o Governo poderia encarar. Aterroriza-os o exemplo de Hugo Chávez, que acaba de anunciar a nacionalização de outras três empresas de Techint.
Mas Kirchner tomou distância do venezuelano. E ante a consulta de Clarín, limitou-se a afirmar: "Os empresários sabem o que eu penso. Para mim é suficiente o que já disse (Julio) De Vido". Que tinha dito o ministro de Planejamento? Que o Governo "repetirá sem duvidar" os gerenciamentos que fez ante Chávez pela nacionalização de Sidor "respeitando como tem feito sempre as decisões soberanas de outros Estados, mas protegendo os interesses nacionais".
O chefe de Gabinete, Sergio Massa, disse um pouco mais. "Techint é uma empresa argentina e há que a ajudar", afirmou, e tentou espantar os fantasmas do empresariado ao sublinhar que Argentina tem uma realidade muito diferente à venezuelana. "Aqui seria politicamente inviavel e praticamente impossível um processo de estatizações como o de Venezuela. Mas o Estado seguirá intervindo para salvar fontes de trabalho em casos de emergência, como ocorreu com Massuh", explicou a este diário.
Kirchner percorreu a papelera junto a uma nutrida comitiva oficial na qual, além de Massa, estiveram o ministro do Interior, Florencio Randazzo, a titular de Desenvolvimento Social, Alicia Kirchner, o secretário de Inteligência, Héctor Icazuriaga, o titular da ANSeS, Amado Boudou, e o deputado Carlos Kunkel. Também disseram presente o prefeito de Quilmes e dirigente metalúrgico Francisco "Barba" Gutiérrez e o titular da UOM, Antonio Calou.
A alguns chamou a atenção a ausência do secretário de comércio, Guillermo Moreno, diretor executivo da Papelera Quilmes. Ainda que pouco favor poderia fazer à campanha oficialista o aparecimento em cena de seu desprestigiada figura.
Kirchner caminhou de ponta a ponta da planta industrial, desde a planta semiquímica já em funcionamento à bobinadora, que voltará a se pôr em marcha este fim de semana, e se sacou fotos com os funcionários e as máquinas. Um dos trabalhadores com mais experiência lhe comentou a Clarín que a planta produz a partir de fibra curta de eucalipto  30 por cento da celulosa que utiliza. "Fazemo-lo sem cloro. Um procedimento não contaminante, similar ao de Botnia", afirmou. Um servidor público que escutava sorriu, mas preferiu o silêncio.

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